quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

UM NOVO AUDITOR

Por muito anos, os auditores veem “revisando” os negócios organizacionais. Dependendo do perfil da unidade de auditoria, dos seus auditores e da própria organização, o verbo “revisar” pode ser tomado em diversas acepções, tais como: auditar, fiscalizar, conferir, certificar, etc. Em todo caso, o processo está associado à pratica de, conferir, ver se está certo; comparar, confrontar, verificar, ticar, ..., a partir de uma lista detalhada de itens a serem checados (o check-list). De fato, pode-se argumentar que o ato de “ticar o check-list” é um símbolo ou “marca registrada” mais proeminente da profissão de auditor (basta dar uma visitinha no “Google Images” para verificarmos isso - ops... “verificar”, coisa de auditor!).
Porém, os tempos estão mudando (para alguns, supomos!). No mundo de hoje, no qual à auditoria interna é, comumente, atribuída a tarefa de formar uma visão de todo o processo de gerenciamento organizacional, se o auditor ainda está focado na velha prática de ticar, ele estará gastando muito tempo observando detalhes insignificantes. Se o auditor está alocando mais que 1% do seu tempo em “ticar o check-list” ou revisar o check-list de outros, ele está fazendo tudo (ou quase tudo) errado.
Essa conclusão, à primeira vista, pode parecer muito radical. Mas, considerando o extenso rol de eventos que podem afetar a base organizacional, pode-se, com certeza, dizer que as questões abordadas nessa estratégia de “ticar o check-list” certamente não estarão alcançando coisas relevantes para a organização, principalmente as afetas aos níveis estratégicos e táticos da gestão. Para que a profissão de auditor dê um passo à frente e para que a auditoria interna, realmente, agregue valor à organização, deve-se remover os “óculos de cego” e desviar a atenção de táticas irrelevantes.
De acordo coma definição clássica de “Auditoria Interna”, os auditores têm a responsabilidade e o dever de “agregar valor e melhorar as atividades da organização”, ou, ainda, aumentar a efetividade do processo de gestão, controles e governança. Porém, o que na realidade encontramos nas organizações (tanto públicas quanto privadas) é, por exemplo, definições do tipo: “a auditoria interna, mediante o processo de recalcular, verificar, confirmar, comparar, confrontar, ticar as informações (financeiras, orçamentárias, contábeis, ambientais, normativas, regulatórias, etc) dos processos operacionais, irá dar confiabilidade aos relatórios e declarações (financeiras, orçamentárias, contábeis, ambientais, normativas, regulatórias, etc.) da organização”. Então, se comparamos a nossa (declarada) nobre missão, responsabilidade e dever de “agregar valor e melhorar as atividades da organização” com tal prática, e, ademais, se as nossas atividades de revisar, manualmente ou não, o check-list, consumirem mais que 1 % do nosso tempo, será realmente uma perda de tempo, pois estamos nos desviando do nosso objetivo: “agregar valor e melhorar as atividades da organização”.
Por que, em vez disso, não tomarmos a liderança no desenho de novas capacidades operacionais, focando em áreas relevantes, para que a organização atinja seus objetivos estratégicos? Com isso em mente, os auditores internos estarão hábeis a entregar aos gerentes da organização resultados que os ajudarão a melhorar a performance e, mais ainda, transformar a percepção deles sobre o processo de gestão (isso, sim, é agregar valor). Os meios de se obterem e/ou de se criarem informações para entregar recomendações que agreguem valor aos processos de gestão e aos resultados de áreas específicas ou da organização como um todo, com certeza não serão os baseados no ultrapassado método do “ticar o check-list”. Porém, há casos em que a auditoria feita por este nefasto e ultrapassado método pode ser necessária, mas nunca deve ser o carro-chefe da auditoria interna.
Há métodos mais robustos e eficientes de se dar respostas aos problemas e deficiências dos processos operacionais da organização.
O método “ticar o check-list”, infelizmente, ainda persiste como o símbolo da profissão de auditor, que ilustra como estamos, de forma “magnífica”, preparados ou equipados para operar num mundo que, infelizmente, não mais existe. Os auditores são historicamente vistos como aqueles que estão “detrás das cortinas” ou “sob os radares” dos bons ou mal resultados da organização. Todavia, para entregarmos produtos transformadores, que realmente possam agregar valor, devemos dar um passo adiante na incessante e inacabável tarefa de auditar documentações que são fundamentadas em prática obsoletas.
Esse passo adiante é a auditoria baseada em gerenciamento de riscos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário